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Em um momento de violência política e ameaças institucionais contra as populações originárias, os povos indígenas de Bertioga e de todo o Brasil foram duramente ofendidos com discurso racista e anti-indígena de um vereador da cidade de Santos, litoral de São Paulo.

Roberto Oliveira Teixeira (Republicanos), o Pastor Roberto de Jesus, como é conhecido no município, se referiu a um grupamento indígena como representantes da barbárie. A fala foi feita na tribuna da Casa Legislativa, na sessão da última terça-feira (30), quando Oliveira Teixeira lia um requerimento de votos de congratulações aos 31 anos de emancipação da cidade de Bertioga.

Veja a abertura do pronunciamento:
“Bertioga surge na história do Brasil com a importância de um dos primeiros pontos geográficos com povoamento regular. Este locais eram destinados à defesa de povoamento e foram palcos de grandes batalhas entre a civilização, representada pelos portugueses de Martim Afonso de Souza, e a barbárie, representada pelos Tamoios de Aimberê, Caoaquira, Pindobuçu e Cunhambebe, em constantes incursões contra os colonizadores”.

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A Câmara aprovou o requerimento por unanimidade e ele será encaminhado ao prefeito de Bertioga, Caio Matheus.
No mesmo dia e possivelmente no mesmo horário em que o pastor fazia o discurso anti-indígena e racista, a Polícia Militar literalmente “caçava” manifestantes indígenas no Jaraguá, em São Paulo. Eles protestavam na rodovia dos Bandeirantes contra o Marco Temporal (Projeto de Lei 490/07), ataque gravíssimo aos direitos dos povos originários e ao meio ambiente e que estava em discussão na Câmara dos Deputados.

O projeto, que foi aprovado naquela mesma noite, estabelece que os povos indígenas têm direito de ocupar apenas as terras que ocupavam, ou já disputavam, até 5 de outubro de 1988, data de promulgação da Constituição. A mudança também flexibiliza a mineração em terras indígenas. Os manifestantes agora convocam uma mobilização para o próximo domingo (4), às 8h, na Terra Indígena (TI) Jaraguá.

DEPUTADOS DA BAIXADA VOTARAM CONTRA OS INDÍGENAS
O litoral paulista concentra o maior número de aldeias do Estado. Na Baixada Santista, segundo o censo de 2010, 3.318 pessoas se declararam indígenas. Ao todo, eram 17 aldeias na Região e cinco terras indígenas localizadas nos municípios de Peruíbe, Itanhaém, Mongaguá, Praia Grande, São Vicente e Bertioga. Os dados podem sofrer alterações com a divulgação do novo senso. Mas sabe-se que a população nessas terras é do povo Guarani Mbya e Tupi-Guarani (Ñandeva) e a principal forma de subsistência é a agricultura e o artesanato.

A aldeia com maior população indígena está na Ribeirão Silveira, na cidade de Boraceia, ao lado de Bertioga, que abrigava aproximadamente 600 índios.

A despeito da região litorânea ter grande representatividade indígena no Estado, os deputados federais eleitos pela Baixada Santista ficaram do lado dos setores mais conservadores do Congresso e votaram a favor do marco temporal e contra os povos originários. São eles Rosana Valle (PL), Alberto Mourão (MDB), Paulo Alexandre Barbosa (PSDB).

VEREADORES DE SANTOS, PARA QUEM ELES TRABALHAM?
DEPUTADOS DA BAIXADA SANTISTA, PARA QUEM ELES LEGISLAM?