tapa300Ânimos exaltados, tapa na mesa e discursos gritados na sessão extraordinária de sexta (16) poderiam dar um ar de seriedade ao trabalho parlamentar, mas na verdade, criam apenas uma caricatura. É o que se pode dizer da votação de um projeto para reorganizar o quadro funcional da Câmara de Santos. A reestruturação obedece a uma decisão da Justiça, que determinou a extinção de cargos criados irregularmente. A apresentação de emendas ao projeto proporcionou os momentos de gritos e bravatas.

O que mais motivou o bate-boca foi a questão do comissionamento de funcionários. Um vereador que discursa como se fosse ter um colapso, denunciou a prática de desvios de função. Relatou que candidatos ao serviço público prestam concurso para uma função, geralmente simples, mas com intenção de atuar em outra, com mais destaque ou remuneração. Apontou a ocorrência de casuísmo na gestão municipal. Citou que em uma gestão anterior, um decreto foi editado pelo prefeito, com a intenção de permitir o remanejamento de um único contratado. “Era uma encomenda”, acusou.

Mais que depressa, outro vereador, tucano, tratou de rebater a acidez do colega. “O senhor soltou os cachorros. Eu vou deixar o meu aqui quietinho”. O citado ainda retrucou e apontou que embora o projeto em questão fosse da mesa diretora, nem toda a mesa diretora estava votando nele. Bastou para outro integrante da mesa sentir-se provocado. Este, nas últimas duas sessões falou mais do que pastor em dia de culto, disse também aos gritos que embora o projeto fosse da mesa, não havia tomado conhecimento, soltando um teatral tapa na mesa. É quase uma ironia, mas este, em final de mandato, passou a repetir um bordão endereçado ao Executivo: “A Câmara precisa ser respeitada”.

O uso de energia na voz, ou no braço, como neste caso, não ajuda a valorizar a imagem da Câmara. Basta ver pelas reações dos eleitores nas redes sociais. O eleitor Felipe Mattos escreveu em versos: Quem tá com a barriga cheia É difícil se lembrar de quem está com fome E quem vive no poder Só gosta de chegar perto de quem já tem nome…. Outro internauta, George Wells apontou determinado parlamentar, eleito com muitos votos. “Esse vereador dança conforme a música. Infelizmente não tem coragem de peitar ninguém na Câmara.”

Sobre a mobilidade escreveu outro eleitor: “Transporte Coletivo… Neste segmento vale a pena desviar dinheiro público. Ladrão pobre vai direto para a cadeia e cumpre a pena. O corrupto não. Gostam é de cadeias de televisão para entrevistá-los, e de muitos seguidores para bajulá-los. Se por exemplo desviarem R$ 10.000.000,00, gastam R$ 2.000.000,00 com o melhor aparato jurídico de prontidão para lhes garantir a defesa….” E por ai vão as críticas dos eleitores nas redes sociais. Estas, criticadas pelos vereadores cobrados. Um deles, destemperado, em flagrante ato inquisidor, apontou o dedo para um profissional da imprensa e interpretou o trabalho de um jornalista como o de um espião. Tudo isso mostra que a Câmara tem um lado nada democrático, que os projetos chegam de cima para baixo e devem ser engolidos. E, entre tapas e gritos, no final todos compõem um mesmo enredo, que o eleitor bem conhece.