rodinha300Esvaziamento e fuga. Parodiando letra de música do cantor Ed Motta, durante duas sessões a base governista na Câmara de Santos agiu desta forma para evitar o desgaste da gestão tucana. Repetidamente, na hora de votar um requerimento do  vereador Evaldo Stanislau (Rede, primeiro mandato) sobre o Programa Santos Novos Tempos, a bancada do governo esvaziou as sessões. Até perceber que manter o requerimento na pauta seguidamente prolongava ainda mais o desgaste do Executivo. No debate ocorrido na segunda (15), entre muitas verdades ditas, uma delas é que graças às obras inacabadas, o Jardim Castelo que não enchia agora sofre com as enchentes. Adilson Júnior (PDT, segundo mandato) e Manoel Constantino (PSDB, oitavo mandato) foram unânimes em constatar tal situação provocada pelo projeto que deveria resolver o problema das enchentes na Zona Noroeste. Ao contrário, agora é o responsável por novos alagamentos. Um total fiasco que deverá ser cobrado na hora do voto nas urnas em outubro próximo.

Após duas sessões de esvaziamento programado, revendo a estratégia, a base governista aceitou discutir o material. E, não poderia ter sido pior para a imagem do governo. Embora vereadores da base aliada tenham feito vistas grossas em fiscalizar os desmandos na condução do projeto, principalmente aqueles com base na Zona Noroeste não puderam trair seu eleitorado e a lavagem de roupa suja foi transmitida ao vivo para os eleitores. Além de esvaziar duas sessões, a estratégia do governo consistia ainda em tentar esvaziar o pedido de informações feito pelo vereador Stanislau, candidato a vice-prefeito em uma coligação com outro partido. Geonísio Boquinha Aguiar (PSDB, segundo mandato) havia proposto realizar uma audiência pública sobre o assunto. Uma vez aprovada a audiência seria agendada para um futuro bem distante. E, como de costume, no evento, não irá contar com os responsáveis por dar as devidas informações. Uma estratégia antiga, manjada e que merece o repúdio do eleitor.

Além de Boquinha, Cacá Teixeira (PSDB, primeiro mandato) e Sadao Nakai (PSDB, segundo mandato) tentaram, em vão, preencher o espaço/tempo com palavras, vazias, é claro, já que faltam explicações sobre o uso do dinheiro, a obrigação em devolver recursos do Banco Mundial e o reconhecimento de que, em linguagem popular, a emenda saiu pior que o soneto.

Com papeis nas mãos, Evaldo Stanislau apoiou-se em relatório do Banco Mundial apontando os equívocos. “Vejo que a bancada do governo corrigiu o viés de que não houve irregularidade, ou seja, foi incompetência mesmo. Em resumo, o projeto não completou a macrodrenagem e nenhuma das sub-bacias foi drenada, gastando-se os recursos do Banco Mundial”.

rodinha1300Por  fazerem parte do governo, parlamentares como Constantino se pronunciaram com pedidos de desculpas. E foi um banho de água fria para o ninho tucano do qual passou a fazer parte em 2015. “Não posso imaginar, nunca, que os moradores da Zona Noroeste, por mais simples que eles sejam, estejam acreditando em tudo isso que estão falando ai. Eles não estão acreditando. Aterraram o canal, o lugar das águas. Aterraram a saída das águas. O (bairro) Castelo enche mais do que já enchia. Eu estou me preparando todos os dias para já ir deixando o carro longe e seguir a pé. Deixo meu carro e ando com água até a cintura. Eu não ia falar, eu estava presidindo, mas fui provocado. Por várias vezes eu alertei, em várias reuniões, com relatório, documentos entregues ao prefeito, para que visse o que estava sendo feito”.

Outro parlamentar, candidato a prefeito, Marcelo Del Bosco Amaral (PPS, terceiro mandato), também ficou cheio de dedos, uma vez que integrou o atual governo. Mas, pôs o dedo em feridas, as quais, ele ignorou ao votar favoravelmente. Trata-se do convênio com a Sabesp, entregando a saneamento de Santos por até sessenta anos. “Estamos conversando aqui e a população deve estar perguntando o que eles estão debatendo? Quando se fala em novos investimentos, nós também ajudamos a votar a questão do dinheiro da Sabesp que era para saneamento, educação, saúde, mas principalmente o saneamento, e nós não vimos um real deste dinheiro para o Santos Novos Tempos…”.

Também em tom de quem pede desculpas, Adilson Júnior se pronunciou. “Precisaria ter uma melhor explicação para a população. Realmente há um desconforto, porque agora enche mais. As casas são atingidas por conta da intervenção mal sucedida na Rua Haroldo de Camargo. Isso é verdade. Depois daquela intervenção, todo o Jardim Castelo, por exemplo, credita àquela obra inacabada, a questão do Santos Novos Tempos. Tem coisas que não dá para simplesmente tirar. A obra parou, mas parou tudo, parou a fiscalização. A Rua Haroldo de Camargo está parecendo um final de guerra. O mato cresceu. No lado de São Vicente as casas inventaram novos comércios e em cima de onde era o canal, agora tem mesas, cadeiras… É o fim. Precisa ter um pouco de zeladoria com aquele lugar….”.

Apesar das críticas atuais, os vereadores santistas criaram uma Comissão Especial com a única finalidade de acompanhar as obras do programa Santos Novos Tempos. Mesmo assim, grande parte dos recursos foi gasta de forma a merecer a reprovação do Banco Mundial e as obras foram paralisadas. Uma prova definitiva de que as comissões internas da Casa não servem para nada. E agora, o chororô dos vereadores compara-se a pedidos de desculpas ao eleitor, que deve dar a sua resposta nas urnas.