Charge padre300A criação de datas comemorativas como o dia do pastor, dia do padre, dia da diverticulite ou da incontinência urinária não têm limites na Câmara santista. Homenagear este, aquele ou aquilo outro é um lugar comum em que caem 99,9% dos vereadores eleitos. E o pior: o uso indiscriminado da prática, em vez de dar vulto ou importância pode banalizar aquilo que se quer dar prestígio. Esta celebração por meio de rótulos, carimbos, selos, placas e homenagens reforçam aspectos simbólicos ou de simbologias que remetem a um universo ficcional.  Coisas que existem apenas no papel. Num tempo em que, devido às agruras, os símbolos caem, são trocados ou esquecidos.

Ao propor o dia do Padre, o vereador Augusto Duarte (PSDB, primeiro mandato) fez transparecer a disputa que existe pelo eleitorado católico. São vários os que colhem votos nesta seara. É também um contraponto ao Dia do Pastor, já aprovado no Legislativo santista. E mais: na sessão de quinta (1), o vereador apresentou um trabalho relacionado a determinada paróquia. Foram vários os vereadores que fizeram coro e pediram para subscrever, ou seja, para colocar o nome na propositura a ser encaminhada à referida igreja. Apressado, Adilson Júnior (PTB, terceiro mandato) declarou: “subscrito por todos os vereadores”. Mereceu a pontuação de Telma de Souza (PT, terceiro mandato). “Todos?”. No requerimento seguinte, na mesma situação, em tom mais sério Adilson foi mais preciso: “subscrito por diversos vereadores”. A observação fez parecer que não se trata de um programa de rádio ou TV em que todos mandam beijos e abraços, e sim de uma sessão da Câmara de Santos.

O afã católico ainda está manifesto em outra proposta. Esta, de Geonisio Pereira de Aguiar (PSDB, terceiro mandato). Institui Nossa Senhora de Fátima como padroeira da Zona Noroeste. O radialista Jorge Fernandes (PSDB, suplente), que assumiu o mandato com a rápida ausência de Rui de Rosis (PSDB, primeiro mandato), não perdeu a oportunidade. Deixou projeto de lei para Incluir no Calendário Cultural da Cidade de Santos a Feira do Norte. Já existe no calendário uma Semana Nordestina que não é realizada.

Francisco José Nogueira da Silva (PT, primeiro mandato) propõe criar o Dia Municipal de Reflexão sobre o Holocausto e Combate à Intolerância. Não se duvida da importância do tema, mas o parecer jurídico foi pela impossibilidade.  Outro tema em voga foi alvo de proposta de Telma de Souza (PT, terceiro mandato). Propôs criar o Dia da Redução de danos. É pertinente justamente num momento em que a sociedade discute o que fazer com frequentadores de cracolandias. No entanto, é pouco diante da complexidade do assunto. Ao levar a discussão para este campo, da criação de uma data, reduz sua importância. É como se ao propor uma data o vereador dissesse: “eu fiz a minha parte”. Soa como lavar as mãos.

Braz Antunes Mattos Neto (PSD, terceiro mandato) propõem inserir no calendário oficial o Festival Arte & Trabalho. E Telma acrescenta ainda o Mês Maio Roxo para Conscientização sobre o Lúpus – Lúpus Eritomatoso Sistêmico. Antônio Carlos Banha Joaquim (PMDB, sexto mandato) propõe a alteração de época da Semana da Diversidade Sexual. Tramita ainda outro projeto instituindo o Mês da primavera criativa.

A paixão dos vereadores santistas em criar datas e eventos comemorativos não tem tamanho. Se fossem elencados um a um diariamente, não caberiam em um único ano. A consolidação das datas comemorativas ocupa 120 páginas que podem ser conferidas no site da Câmara.  Ou seja, o vereador santista gosta mesmo é de festa. Se for com dinheiro público, então, melhor ainda. E as datas nem precisam existir de fato. O que vale é ter sido o autor de determinada comemoração. Mesmo que ela não ocorra efetivamente. Santos conta, por exemplo, com o Dia do Direito à Convivência Familiar Comunitária e Dia do Evangelismo de Carnaval Bola de Neve. E várias outras.