Emissario-Submarino_deteriorado

O vereador Ademir Pestana (PSDB, 4º Mandato), o mesmo que propôs uma estátua do Pelé na entrada da cidade, o mesmo que propôs mais um elevador na sede da Câmara, o mesmo que propôs aumento de assessores nos 21 gabinetes, está agora com uma nova ideia genial: quer que a Prefeitura de Santos faça um projeto para a construção de uma roda-gigante panorâmica no Parque Roberto Mário Santini.

Conhecido como Emissário Submarino, o espaço de lazer e práticas esportivas localizado no José Menino está bastante deteriorado por falta de zeladoria e serviços de manutenção. Tem sido alvo de reclamações dos frequentadores, surfistas e turistas, inclusive.

Em pior situação encontram-se locais de lazer e esportes nas áreas mais afastadas da orla, sempre relegadas ao último plano pelo governo. Um exemplo é a Lagoa da Saudade, no Morro da Nova Cintra, onde as obras de revitalização estão paradas há meses. A entrega deveria ter sido feita em dezembro do ano passado.

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Não vimos nenhum vereador acionar o Ministério Público ou chamar a imprensa para denunciar o estado de abandono do local. Os moradores dos morros seguem reclamando de falta de equipamentos turísticos e de lazer.

Outro equipamento distante da praia e que está em estado de deterioração é a Arena Santos. A situação é tão precária que recentemente um refletor despencou no ginásio. O prédio tem infiltrações, goteiras, problemas elétricos, rachaduras. Com os problemas hidráulicos, o assoalho de madeira está ficando comprometido. As caixas d’água estão sem limpeza regular e há condições propícias para criadouros do mosquito da dengue.

Também não vimos nenhum vereador fazendo uma fiscalização e uma denúncia mais contundente sobre o assunto.

Enquanto as obras da Ponta da Praia seguem em ritmo normal, os bairros na Zona Noroeste não têm nem mesmo recapeamento asfáltico. Naquela região as possibilidades de lazer gratuito também são escassas. As poucas que existem mereciam mais atenção do poder público.

No Jardim Botânico Chico Mendes falta reforma no local destinado às crianças. Alguns brinquedos estão há tempos danificados e não são substituídos.

Contrariando o que aparece na TV, quem frequenta o equipamento sente-se inseguro e pede a presença de guardas municipais. Usuários pedem também intervenções de manutenção da pista de caminhada, da academia, manutenção nos banheiros, corte do mato, entre outros serviços que deveriam ser rotineiros.

No Orquidário Municipal, a despeito de haver cobrança para entrada, também o clima é de descuido. Não há periodicidade regular da zeladoria, circulam denúncias de proliferação de pragas nas plantas e animais e, até o mês passado, conforme requerimento da própria Câmara ao Executivo, o prédio do setor veterinário seguia com obras paradas.

Esses são só alguns exemplos de quanto há por fazer para manter, melhorar e ampliar as opções de lazer nos bairros antes de se pensar em atrativos mirabolantes e caros na orla.

Imaginemos como seria o processo de instalação de uma roda-gigante panorâmica numa região em que as autoridades demoram décadas para resolver um problema de engenharia relativamente comum, que é a ligação seca entre duas cidades.

Para se ter uma ideia, o custo total do projeto da roda-gigante panorâmica High Roller, em Las Vegas, Estados Unidos, superou os 550 milhões de dólares. Convertendo em reais ultrapassa os R$ 2 bilhões.

Já a The London Eye, que fica na capital inglesa, demorou sete anos para ser construída. O preço para desfrutar da vista? Cerca de 25 euros, ou seja, o equivalente a mais do que R$ 100,00.

Santos não fica na Europa e nem se parece com cidades americanas e chinesas, citadas como exemplos no requerimento do veterano vereador. Nestes locais, bem servidos de infraestrutura, os índices de desigualdade são bem menores, não há problemas graves de moradia, saúde e ou educação, o que faz com que uma uma atração turística cara e arrojada como essa não soe como um devaneio.

Santos também não é o Rio de Janeiro, onde um equipamento em menor escala estava sendo construído na Zona Portuária pelas empresas ARC Big Eye em Gramado Parks, que venceram uma megalicitação promovida pela prefeitura para explorar o empreendimento. A licitação foi cercada de denúncias de favorecimento. E no início deste mês a empresa ARC Big Eye deixou a parceria após investir R$ 300 milhões no negócio.

Aqui na Santos de verdade espera-se ainda que o básico das políticas públicas funcione, especialmente para quem mora longe do mar e não tem como pagar ingresso para ver de cima o maior jardim a beira-mar do mundo. Um jardim onde, infelizmente, nem mesmo as políticas higienistas defendidas por muitos vereadores conseguem esconder a miséria, representada pela população em situação de rua.